Domingo, 2 de Março de 2008

I capitulo

 

A viagem

 

Depois de ter-mos acalmado, os choros eram apagados pelas paisagens que conseguíamos ver através das janelas do Taxi.
Campos verdes, flores de todas as cores, que mais parecia com um tapete florido.
As papoilas vermelhas que pareciam ser frágeis balançavam  ao vento... pareciam nos dizer adeus, ao longo da estrada da nossa aldeia até ao porto.
Rebanhos de ovelhas pastavam pelas beiras das estradas, uma ou outra! aventurava-se na estrada fazendo com que o táxi tivesse de parar.
Os quilómetros iam aumentando e a nossa bela aldeia ficava cada vez mais longe da nossa vista, mas nunca do nosso coração...
Minha mãe calada, com seus olhos tristes fitava o horizonte, meu pai á conversa com o taxista e nós com medo nada dizíamos.
E quando falávamos... Era-nos dito para nos calar, pois não devíamos aborrecer o motorista e o respeito tinha de ser mantido, pois quando os adultos falavam nós crianças não devíamos interromper.
Chegamos á estação de campanha, (Porto) então ficamos todos de olhos arregalados, nunca tinha visto tanta gente junta, a não ser nas festas e romarias da aldeia.
Todos nós tivemos de ajudar meus pais a carregar as malas e os sacos…
Tínhamos de ficar todos muito juntos, pois podíamo-nos perder.
As famílias na mesma situação do que a nossa eram inúmeras.
quando o comboio chegou, havia um barulho aterrorizante e muito fumo preto que nos metia medo.
Não sabíamos para onde ir, era uma confusão total, toda a gente a correr uns para cada lado.
Minha mãe pegou em nós e em alguns sacos entramos para o comboio.
As janelas foram logo abertas pelos passageiros aos gritos pela confusão.
Meu pai ficou do lado de fora, para passar as restantes malas que eram pesadas, pela janela.
Meu irmão mais velho (entre os 4 e 5 anos) ia ajudando a puxa-las para o lado de dentro com minha mãe.
O comboio já estava a iniciar a marcha quando meu pai correu para dentro e veio ao nosso encontro.
Nós já chorávamos... pensávamos que meu pai tinha ficado em terra, o que ia ser de nós sozinhos.
No comboio existia um corredor, todo o longo da carruagem, do outro lado era os compartimentos com os lugares marcados em números.
depois de ter colocado as malas por cima dos assentos,em suportes apropriados e o saco da merenda por baixo do banco, não esquecendo o garrafão de vinho ,que era a marca do bom Português.
Lá nos assentamos, todos nós, queríamos ir á janela para ver a paisagem.
Era empurrão para um lado, outro empurrão para o outro, até meu pai por ordem e nos calamos, olhando de esguia uns para os outros.

A longa viagem começou...
Pouco depois veio o controlador de bilhetes, nunca mais me esquece um homem alto magro moreno e de bigode preto que olhava com ar de mau. Demorou uma eternidade a controlar e nós mal respirávamos com medo de que ele pegasse por isso.
Depois de ser tudo visto a pormenor, ele saiu e nós então deixamo-nos caír de cansados, ao fundo dos bancos corridos, de couro vermelho.
O tempo nunca mais passava, nós que estávamos habituados a correr pelas ruas da nossa aldeia, de pneu ou aro de bicicleta na mão (eram os nossos brinquedos) tínhamos de ficar horas assentados.
Meu pai não nos deixava sair dali, porque era perigoso a não ser para ir á casa de banho.
Então começou o nosso novo passa tempo...
Ter sempre vontade de ir á casa de banho.
E cada vez que íamos espreitávamos para os outros compartimentos para ver se eram igual a nós.
Nesse aspecto éramos todos iguais, ainda bem, não éramos os únicos.
Nova aventura, a casa de banho no comboio...
Existia apenas uma para toda a gente, mas que estranho (pensavamos) tinha uma sanita branca com uma tampa preta partida
e ainda tinha papel higiénico branco( o que não chegou para toda a viagem).
 Por cima da sanita tinha uma corda, curiosos que éramos puxamos e milagre...
Saiu agua (que estranho,) na aldeia não existia nada disso.
Era um assento em madeira com dois boracos (lugar para duas pessoas) num barraco fora de casa que o meu pai tinha feito.
Nem sequer era preciso agua, ficava logo na chamada fossa. Que depois quando estivesse cheia minha mãe, deitava na terra para estrumar e daí poder semear o milho ou o trigo ou mesmo a batata, as couves etc.
Crianças como éramos só queríamos puxar a agua da sanita no comboio, o que depressa deu confusão com as outras pessoas que viajavam.
ao fim de um tempo e de sermos chamados á atenção por outras pessoas, regressamos ao nosso compartimento muito caladinhos.
A noite chegou não havia lugar para nos deitar tínhamos de dormir assentados uns contra os outros.
Bem ou mal melhor dizendo, a noite passou e novo dia nasceu, o barulho do comboio era uma constante em nossa cabeça.
Em Espanha tivemos de mudar de comboio, mais uma vez a confusão na troca das malas e de via para pegar outro comboio.
Estávamos arrasados já chorávamos, não queríamos mais andar de comboio mas tinha de ser.
Quando finalmente chegamos a Paris já não aguentávamos mais, meu pai tinha organizado que uns amigos nos viessem buscar de carro e fomos para Epone (Mantes-la-Jolie) cidade onde iríamos viver.
A nossa casa era bonita, parecida com algumas em Portugal.
Uma grande porta de entrada de madeira e tinha fechadura com chave, na entrada tinha um pátio em cimento um tanque grande para lavar a roupa do lado esquerdo.
E umas escadas para subir para casa do lado direito
lá em cima tínhamos do lado direito uma cozinha grande com um fogão lindo, a porta do forno era de ferro branco e a carvão assim como um quarto grande. E do lado esquerdo outro quarto grande.
No meio dessas peças havia um corredor que dava para o quintal e umas escadas em madeira para subir para a (barra) onde se guardava as batatas e outros alimentos…
Ficamos hilariantes que nem queríamos dormir, queríamos percorrer a casa toda, era tão diferente da que tínhamos na aldeia, tinha conforto, até o chão era de madeira e tinha uma cave onde o senhorio lá tinha umas arrumações enquanto não demos volta a tudo não descansamos.

Pela primeira vez entramos em contacto com as pedras de carvão, eram tão giras, redondas e pretas brilhantes, que comecamos logo o jogo do mata com as pedras de carvao,ao brincar não demos por ela que ficamos todos pretos.
Qual foi a nossa surpresa quando fomos lavados com agua corrente e quente….

Na aldeia a minha mãe ia buscar agua ao cântaro e á fonte, ali ela vinha sozinha pela torneira.

Nessa noite dormimos numa cama com colchão normal, já não era colchão de palha seca como tínhamos em Portugal, era tão mole que saltávamos em cima dela e riamos de satisfação.
Até adormecer demorou tempo, mas dormimos assim na nossa primeira noite em França, confortáveis e quentes, já não tinha vento que entrava pelo telhado nem chuva.


Mas também já não conseguia ver o céu estrelado pelas telhas partidas…

Volto brevemente contar como nos adaptamos com a língua Francesa…

 

Alzira Macedo


publicado por Alzira Macedo às 00:27
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6 comentários:
De Viajante dos ventos a 2 de Março de 2008 às 09:24
Um fato que muito me chama a atenção na história dessa mulher fantástica é que apesar de tantas dificuldades a família sempre procura estar unida mesmo que por vezes são obrigados a estar distantes uns dos outros. Tem famílias que quando enfrentam problemas começam logo a se fragmentar. Isso aconteceu com a minha...

PARABÉNS ALZIRA! Estou adorando.


De Fernando Reis Costa a 2 de Março de 2008 às 12:40
Alzira!
Adorei a forma como que descreves a realidade da vida. Li o teu Post de Fevereiro, sim! Apaixonente a tua prosa. Voltarei com mais tempo para me deliciar com os teus textos.
Uma maravilha!
Os meus sinceros parabens.
Abraço
Fernando


De Anónimo a 2 de Março de 2008 às 17:59
Fiquei extasiado com esta historia tão verdadeira carregada de emoção e simbolismo. Aguardo com ansiedade os próximos episódios pois a julgar pelo primeiro devem ser ainda mais comoventes .. Parabéns à autora continua com veia poética e o que mais é de realçar uma memória enorme parabéns Alzira.
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Fiquei extasiado com esta historia tão verdadeira carregada de emoção e simbolismo. Aguardo com ansiedade os próximos episódios pois a julgar pelo primeiro devem ser ainda mais comoventes .. Parabéns à autora continua com veia poética e o que mais é de realçar uma memória enorme parabéns Alzira. <BR class=incorrect <a name="incorrect">Poesia.e.festa</A> </A></A></A>


De sonhador a 3 de Março de 2008 às 18:44
Boa tarde amiguinha!

Já é a segunda vez que comento este post,pois o primeiro deu erro,e olha foi-se...lol
Estou mesmo encantado com este blog,encantado porque realmente consehues transmitir a todas(os9 qye visitam este blog,o quanto é duro ser imigrante,o que leva muitas vezes a pensar se vale a pena sair do nosso país,para sofrer tanto!
Como escrevi numa das minhas paginas,este é um dos blogs que mais gosto de visitar,porque aqui consegues pela escrita mostrar os teus sentimentos,e do que passas-te para ser o que es hoje...parabens amiga.
Só um a parte,gostei daquela da sanita....lol
Beijinhos,espero que estejas bem junto de quem mais amas.
Sonhador


De TiBéu ( Isa) a 13 de Maio de 2008 às 19:01
Alzira
Fiquei encantada com a tua história e com a forme de a descreveres. Parabens tens muito jeito. Fico para ver o resto da história. bj


De Alzira Macedo a 14 de Maio de 2008 às 17:06
Olá amiga obrigada por passares pelo meu blog...
nao sei se leste o inicio desta historia marcante e veridica...
è tambem o titulo do inicio desta historia, me parece que tá no mes anterior a este nao sei se leste....
Pois eu agora iniciei o emprego e tenho menos tempo para os escritos.... Mas vou acabar esta historia, estou já com o segundo livro de poesias pronto só necessito as correcoes e editar mas espero ainda um tempinho gostaria de ter meu marido presente quando isso acontecer...
e agora prometi a meus pais homenagear a vida de emigrante com a historia da nossa vida e que muitos emigrantes se reconhecerao....
Um beijo para ti e volta sempre.


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